terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Ato promovido pelas Centrais Sindicais em SP lembra 50 anos do golpe militar

Atividade realizada no dia 1º de fevereiro, sábado, pediu a reparação aos trabalhadores torturados e punição aos torturadores e empresas que colaboraram com o regime militar

O teatro Cacilda Becker, em São Bernardo do Campo (ABC-SP), com capacidade para 450 pessoas, ficou pequeno para comportar os participantes do Ato Sindical Unitário “Unidos, Jamais Vencidos”, realizado na tarde do último sábado (1). A iniciativa, promovida pelas 10 centrais sindicais brasileiras, entre elas a CSP-Conlutas, que integram o Coletivo Sindical do Grupo de Trabalho ‘Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical’, da Comissão Nacional da Verdade, teve como objetivo homenagear os trabalhadores que sofreram repressão e perseguição do regime militar. A atividade lembrou as perseguições, torturas, prisões e mortes, assim como a cumplicidade de empresas com os militares ao entregar os ativistas aos serviços de espionagem.

O ato político em São Paulo visa a estimular a realização de atos em outros estados onde sejam relembrados os fatos históricos desta época, em especial, as intervenções nos sindicatos e perseguições aos trabalhadores, para que se possa exigir justiça, reparação e punição aos torturadores e às empresas. Uma carta assinada pelas Centrais Sindicais também foi distribuída na atividade (Confira aqui).

Durante o ato, os representantes das centrais lembraram, especialmente, da luta daquele período e dos que lutaram, e defenderam a importância das mobilizações dos trabalhadores para dar o fim ao regime militar brasileiro.

O presidente da Comissão da Verdade São Paulo, Adriano Diogo, lembrou a importância da unidade na campanha por reparação e justiça aos trabalhadores. “Na resistência estávamos juntos, agora, para abrir os arquivos, é muito importante que estejamos juntos também”, ao reafirmar a importância daquela iniciativa. Ele alertou ainda que o regime militar recebeu apoios civis importantes. “O golpe não foi exclusivamente militar. Sem as multinacionais, a ditadura não teria força. É muito importante que os civis também sejam investigados”, disse, em referência à alta direção das empresas que combatiam a atuação sindical e qualquer mobilização da classe trabalhadora, entregando nomes de trabalhadores aos órgãos de repressão do governo.

O dirigente da CSP-Conlutas Luiz Carlos Prates, o Mancha, prestou homenagem aos que sofreram perseguições, e chamou a atenção para a incumbência da Comissão da Verdade ao resgatar o papel fundamental da classe operária para acabar com a ditadura, reforçando o que disse Adriano Diogo e cobrando de multinacionais, como Volkswagen, Scania, Ford, GM, a indenização aos trabalhadores que foram prejudicados pelas denúncias. “A falta de punição permite com que essas atrocidades continuem, é preciso destruir essa estrutura que é utilizada até hoje, seja por meio da repressão aplicada pelas empresas, seja a repressão descabida imposta nas manifestações que acontecem desde junho”.


Mancha denunciou ainda as medidas do governo federal que oficializam a repressão no período da copa, como a lei antiterrorismo, e a aprovação da intervenção do Exército sobre as manifestações. “Essa política é um resquício claro da ditadura, e essa estrutura precisa acabar, por isso é tão necessária a punição aos torturadores e por fim à ideologia de que é preciso reprimir os trabalhadores”, disse. O dirigente citou ainda como exemplos a repressão aos moradores das periferias, as manifestações populares e as mobilizações da classe trabalhadora, pela Polícia Militar e pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Em abril do ano passado, o governo federal colocou a Abin para monitorar as ações dos portuários e dos sindicatos contrários à MP 595 (privatização dos Portos). Desde junho de 2013, os governos estaduais têm colocado as tropas da PM para coibir as manifestações de rua que lutam por direitos. Em janeiro deste ano, um jovem foi baleado pela PM paulista durante um protesto contra a Copa do Mundo.

João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Goulart, também participou do ato dos 50 anos. Seu pai assumiu o poder em 1961, com propostas de reformas, mas foi deposto em 1964 pelos militares. “O golpe não foi somente contra o presidente, mas contra os trabalhadores brasileiros, contra as reformas agrária, tributária, urbana, educacional. 50 anos depois, o país ainda precisa evoluir. Em memória daqueles que ficaram pelo caminho, devemos tentar avançar na democracia e combater os saudosistas do golpe”, disse.

Trabalhadores e sindicalistas que foram perseguidos são homenageados
 Vídeos com depoimentos de trabalhadores que sofreram perseguições também foram apresentados. Em depoimento em vídeo, Zé Maria de Almeida, da Secretaria Executiva da CSP-Conlutas, ressaltou o quanto foram importantes as manifestações estudantis que denunciaram sua prisão e a de mais dois companheiros, Celso Brambrilla e Márcia Basseto. “Não sei se teríamos saído com vida da prisão se os estudantes não tivessem ido às ruas”. Zé Maria abordou ainda a política nefasta do regime militar para aplicar a repressão, lembrando que é necessário apagar esses resquícios nos dias de hoje.

Todas as centrais sindicais apresentaram nomes de trabalhadores que lutaram, ativistas, atuais sindicalistas que participaram das lutas na ditadura militar brasileira. 535 trabalhadores da Grande São Paulo, que lutaram em defesa da liberdade, receberam um certificado em agradecimento à luta.

* Com edição do ANDES-SN


* Fotos: CPS-Conlutas
Fonte: CSP-Conlutas

Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior - ANDES-SN
Data: 04/02/2014

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