Após
uma quinta-feira (24) recheado de manifestações em Brasília (DF), os
docentes federais conquistaram, na base da pressão política, duas
importantes reuniões de negociação sobre a pauta de reivindicações da
greve, que já dura quase quatro meses. Pela manhã, após manifestação em
frente ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), a
Secretaria de Relações de Trabalho (SRT-MPOG) se comprometeu a reunir
com os grevistas. Pela tarde, após ocupação do gabinete do ministro da
educação, Janine Ribeiro finalmente se comprometeu em receber os
docentes federais em greve no dia 5 de outubro.
As manifestações, que contaram com a presença de docentes em greve de
diversas universidades do país e com o apoio de estudantes, começaram
logo cedo. Às 10h os manifestantes se reuniram na frente do MPOG, onde
exigiram resposta à pauta de reivindicações apresentada no dia 18, e
também a marcação de uma reunião previamente acordada com o ministério,
mas que desde então não teve confirmação. Sem quaisquer respostas do
MPOG desde 31 de agosto, os docentes pressionaram por algumas horas até
que Sérgio Mendonça, da SRT-MPOG, se comprometesse a recebê-los na
próxima semana, por meio de ofício enviado ao ANDES-SN.
Em
seguida, os manifestantes se dirigiram ao Ministério da Educação (MEC).
Um grupo de 16 docentes do Comando Nacional de Greve (CNG) do ANDES-SN
ocupou o gabinete do ministro Janine Ribeiro por volta das 13h como
forma de pressioná-lo a receber a categoria – Janine é o primeiro
ministro da educação que não recebeu o Sindicato Nacional em décadas. Os
demais manifestantes se concentraram na porta do ministério, onde foram
reprimidos pela Polícia Militar com gás de pimenta e cassetetes. O MEC
enviou, então, representantes para negociar a desocupação e se dispôs a
realizar uma reunião, na mesma hora, entre os manifestantes e a
Secretaria de Ensino Superior (Sesu-MEC).
Reunião com Sesu-MEC
Quem
participou da reunião foi Jesualdo Farias, secretário da Sesu-MEC.
Paulo Rizzo, presidente do ANDES-SN, apresentou os novos elementos de
negociação dos docentes federais em greve – protocolados no próprio MEC
na semana anterior. Rizzo também questionou Jesualdo sobre como as
universidades federais serão afetadas pelas novas medidas de ajuste
apresentadas recentemente pelo governo federal, entre as quais a
suspensão de concursos públicos e o fim do abono-permanência.
O secretário respondeu que não tem como se posicionar sobre os
elementos de negociação que incorrem em questões financeiras, pois isso é
de atribuição do MPOG, e se esquivou do debate dessas pautas. Em
relação aos concursos públicos, afirmou que imagina que os concursos já
aprovados serão realizados, mas que isso ainda depende de reuniões com o
ministro da educação e com Luiz Cláudio Costa, secretário-executivo do
MEC. Jesualdo disse que as medidas de ajuste e arrocho são gerais a todo
o serviço público, mas que não tem certeza de como elas afetarão as
universidades.
Os representantes estudantis que participavam da reunião
questionaram, então, o secretário sobre os cortes orçamentários que
sofreu a educação pública, enquanto o governo federal segue investindo
dinheiro público em educação privada. Criticaram o fato de que muitos
campi de universidades federais foram abertos sem quaisquer condições de
permanência estudantil, e exigiram que só fossem abertos novos campi
com moradia estudantil e restaurante universitário. Por fim,
reivindicaram que o governo federal invista R$ 3 bilhões no Plano
Nacional de Assistência Estudantil (PNAES).
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Professor Marcos Fernandes Lima, Coordenador de Comunicação do SINDIFPI, durante a ocupação do MEC. |
Jesualdo
respondeu que o MEC tem retido todos os pedidos de criação de novos
campi que não apresentam o mínimo de estrutura para assistência
estudantil, mas que as universidades podem, com sua autonomia,
construí-los por outros meios. Ressaltou ainda que o MEC tem trabalhado
cotidianamente para conseguir recursos adicionais mas, valendo-se da
crise econômica, seria impossível a reversão dos cortes.
Olgaíses Maués, 2ª vice-presidente da Regional Norte II do ANDES-SN,
cobrou a presença do ministro Janine Ribeiro nas negociações com os
docentes federais, lembrando que ele é o único ministro da educação que
nunca recebeu o Sindicato Nacional ou os docentes grevistas, e que seria
uma sinalização importante de respeito à categoria caso ele aceitasse
marcar uma reunião.
O secretário da Sesu-MEC respondeu que tentaria marcar a reunião com o
ministro, desde que os docentes desocupassem o gabinete do ministro. A
resposta dos docentes foi que não havia confiança no ministério a ponto
de desocupar antes de que a reunião fosse marcada, e que a ação
radicalizada era necessária, visto que a greve já dura quase quatro
meses e as negociações praticamente não avançaram – mesmo com os
esforços dos grevistas em apresentar novos elementos para negociação.
Ocupação do gabinete de Janine
A reunião terminou, assim, em um impasse. Os docentes se negaram a
desocupar o gabinete enquanto uma reunião com Janine não fosse marcada.
Algumas horas depois, com intermediação de uma deputada federal, Luiz
Cláudio Costa, secretário-executivo do MEC, se comprometeu a marcar uma
reunião entre os docentes federais, estudantes e Janine Ribeiro para o
dia 5 de outubro. A proposta foi aceita com a ressalva de que seria
importante que a reunião acontecesse já na próxima semana, dada a
gravidade da situação da educação pública federal.
Após quase cinco horas, os docentes desocuparam o gabinete do
ministro. Giovanni Frizzo, 1º vice-presidente da Regional Rio Grande do
Sul, ressaltou que a ocupação foi vitoriosa, pois a intenção da ação era
justamente conseguir com que o ministro recebesse o CNG do ANDES-SN.
Paulo Rizzo, presidente do ANDES-SN, afirmou que as manifestações foram
vitoriosas, já que conseguiram fazer com que MPOG e MEC marcassem novas
reuniões.
“Não tínhamos resposta do MPOG desde 31 de agosto, e do MEC desde 3
de setembro. Queremos negociar, e, inclusive, apresentamos novos
elementos para negociação. Mas foi apenas com muita mobilização que
conquistamos essas duas reuniões”, disse o presidente do ANDES-SN.
Confira
aqui os novos elementos de negociação, protocolados pelo CNG do ANDES-SN no MEC e no MPOG dia 24 de setembro
“Depois
de mais de 115 dias da greve da educação federal 16 docentes ocuparam o
gabinete do Ministro da Educação, exigindo que o mesmo receba o Comando
Nacional de Greve e acabe com o impasse das negociações. Nesse sentido,
após debate intenso, deliberamos pela manutenção da ocupação até que o
ministro Janine Ribeiro receba o CNG ANDES. Reiteramos que esta ocupação
é de inteira responsabilidade do MEC que mantém sua intransigência em
não negociar com os docentes em greve”.
Brasília, 24 de setembro de 2015.