quarta-feira, 26 de setembro de 2012

CARTA ABERTA À COMUNIDADE DO IFPI SOBRE A GREVE E O RETORNO AULAS

Teresina, 26 de setembro de 2012.

EM DEFESA DE UMA EDUCAÇÃO PÚBLICA, GRATUITA E DE QUALIDADE: A LUTA DOS PROFESSORES FEDERAIS CONTINUA!

A CATEGORIA DOS PROFESSORES FEDERAIS DO BRASIL, composta pelos docentes dos Institutos e Universidades Federais, CEFET’s, Colégios Agrícolas, Colégios Universitários e de Aplicação, Colégios Militares, Colégio Pedro II e Instituto Nacional de Surdos, deflagraram greve no último dia 17/05/12, reivindicando a reestruturação da carreira docente, a reposição das perdas inflacionárias dos últimos 3 anos (22,08%) e a melhoria das condições de trabalho e estudo nas instituições federais de ensino.

APÓS 132 DIAS DE GREVE NO IFPI, os campi Angical, Floriano, Parnaíba, Paulistana, Picos, Piripiri, Teresina-Central e Teresina-Zona Sul retomam hoje as suas atividades após sua participação valorosa na maior greve da educação federal no Brasil. Este recorde não nos orgulha, ele é motivo de tristeza, porque revela a falta de consideração que o Governo Federal, gestor máximo da educação no Brasil, tem por este que é um direito social elementar de todos os cidadãos. Marcada pela intransigência do Ministério do Planejamento, do Ministério da Educação e da chefe maior do executivo, a presidente da República, a greve também foi marcada pela coragem, pelo compromisso e o desejo de mudança de milhares de professores, estudantes e técnicos das instituições federais, cansados de assistir a uma expansão sem qualidade da educação federal, que gera a precarização do trabalho dos professores e técnicos e leva ao comprometimento da formação dos estudantes, submetidos muitas vezes a cursos implantados, conduzidos e concluídos sem a estrutura mínima necessária a uma formação de boa qualidade.

EMBORA A SAÍDA DA GREVE tenha se baseado na avaliação de que o governo foi abalado, mas manteve-se forte através da intransigência do Executivo, da manipulação das informações e da ampla colaboração da grande imprensa, compreendemos que nosso movimento obteve vitórias políticas significativas, e que manteremos nossas forças unidas para buscar as vitórias estruturais e de longo prazo que ainda não conseguimos, como a estruturação de uma carreira valorizada e condições de trabalho adequadas.

A GREVE NÃO FOI A NOSSA PRIMEIRA ESCOLHA!

A GREVE COMO DIREITO DO TRABALHADOR É UM RECURSO EXTREMO DE MOBILIZAÇÃO E PROTESTO ao qual recorremos quando uma demanda apresentada ao empregador, neste caso o Governo Federal, não é atendida minimamente por meio das mesas de negociação.

NO CASO DOS PROFESSORES FEDERAIS, a proposta de carreira única de professor federal foi apresentada pelo ANDES-Sindicato Nacional no ano de 2010, e protocolada no governo no dia 02/02/2011. Durante esse período, o governo sempre se mostrou autoritário, recusando-se a discutir profundamente a carreira docente, tratando apenas de questões salariais e procurando desestruturar ainda mais a nossa carreira ao propor reajustes diferenciados por classes e regimes de trabalho, quebrando a isonomia e congelando a base da nossa remuneração. Em agosto de 2011, com uma grande parte dos Institutos Federais já em greve e diante da iminência de uma greve em toda a educação federal, o governo comprometeu-se com um acordo emergencial no qual seus dois principais compromissos eram: concessão de um reajuste emergencial de 4% no vencimento básico dos professores em março de 2012 e a apresentação de um novo plano de carreira até o dia 31 de março deste ano. Posteriormente, os sindicatos deram uma demonstração de interesse em negociar, quando aceitaram alargar o prazo de 31 de março para 31 de maio para que o governo apresentasse a nova proposta de carreira.

ENTRETANTO, de agosto de 2011 a maio de 2012, o governo novamente mostrou-se desrespeitoso com a categoria docente, adiando ou cancelando reuniões e desconsiderando as propostas que o nosso sindicato nacional levava às mesas de negociação. Tendo descumprido o prazo do reajuste e da apresentação da proposta de carreira, o governo deu uma mensagem clara aos professores: tentaria “enrolar” os docentes até o dia 31 de agosto, quando encerra o prazo para enviar o Orçamento Federal ao Congresso Nacional.

PERCEBENDO ESSA MANOBRA, os docentes deflagraram a greve por tempo indeterminado, mobilizando-se para buscar o atendimento de sua pauta nacional de reivindicações e das pautas locais de cada instituição federal em greve.

A INTRANSIGÊNCIA DO GOVERNO FEDERAL DURANTE A GREVE

SOMENTE APÓS 57 DIAS DE GREVE, no dia 13/07, é que o Ministério do Planejamento apresentou uma proposta de carreira concentrada apenas na questão salarial, propondo um reajuste parcelado em 3 anos (2013-2015), cujo maior percentual atingiria apenas cerca de 7% da categoria docente, os professores titulares em final de carreira. Para se ter uma ideia da inadequação da proposta, apenas cerca de 7% do total dos professores federais são titulares. No IFPI não há nenhum professor titular, em um total de cerca de 700 professores, pois esta é uma classe para a qual houve pouquíssimos concursos públicos para o preechimento de vagas. Para a maioria dos professores, portanto, o “reajuste” representaria, em 2015, perda salarial, considerada a inflação do período de 2010 a 2015.

DURANTE TODA A GREVE, O GOVERNO USOU A ESTRATÉGIA DA MANIPULAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA. Um exemplo claro foi que, no mesmo momento em que acontecia a reunião com os sindicatos no dia 13/07, o Ministro da Educação e a Ministra do Planejamento convocaram uma entrevista coletiva na qual divulgavam que “o governo concederia um aumento de 45% para os professores”. Porém, os ministros escondiam deliberadamente que apenas a minoria dos professores seria beneficiada, omitindo que os docentes da educação federal permaneceriam divididos em duas carreiras diferentes, uma carreira desestruturada e pouco atrativa em termos salariais e de perspectivas de desenvolvimento profissional.

DIANTE DA REJEIÇÃO MASSIVA DA PROPOSTA PELOS PROFESSORES DE TODO O PAÍS, no dia 24/07 o governo fez pequenas alterações na proposta sem alterar a sua essência, tentando corrigir o erro grosseiro que resultava em perdas salariais para a maioria dos professores. Permanece a desestruturação da carreira, o aprofundamento das diferenças nas remunerações, a desvalorização das titulações e a omissão quanto aos professores aposentados, quebrando a isonomia com os ativos.

A terceira reunião com o governo foi realizada no dia 01/08, quando foi dado um golpe nos professores. O governo afirmou que sua proposta era definitiva e que assinaria o acordo mesmo se apenas um dos sindicatos presentes o aceitasse. O PROIFES, uma federação de professores que nasceu dentro do governo para servir aos interesses deste, que representa apenas 7 instituições e que toma suas decisões baseadas em consultas eletrônicas suspeitas, resolveu assinar o acordo, levando governo a encerrar unilateralmente as negociações.

O GOVERNO TOMOU UMA MEDIDA ANTI-SINDICAL, passando por cima de três sindicatos nacionais (ANDES-SN, SINASEFE e CONDSEF) para encerrar um processo que nunca foi de negociação, pois não considerou em nenhum momento a pauta de reivindicações construída pelos professores de todo o país em inúmeras assembleias, Congressos e Fóruns que debateram a carreira docente e as condições de trabalho nas Instituições Federais de Ensino.

A PAUTA DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO SEQUER FOI TOCADA PELO GOVERNO, deixando sem respostas as inúmeras demandas por melhores condições de trabalho e estudo, recusando-se ao compromisso com uma expansão da rede federal condicionada à promoção de condições realmente adequadas para o funcionamento dos cursos e a permanência e desenvolvimento dos estudantes nas instituições da rede federal de educação.

O GOVERNO CONTINUOU ILUDINDO, ENGANANDO E CONFUNDINDO A SOCIEDADE, OS ESTUDANTES E SUAS FAMÍLIAS, divulgando na imprensa que “a greve tinha acabado”, que “as negociações terminaram” e que “os professores receberam os maiores aumentos” do funcionalismo, quando na realidade o reajuste proposto gera perdas salariais e desestrutura a carreira docente.

O ENFRENTAMENTO POLÍTICO E AS CONQUISTAS DA GREVE DA EDUCAÇÃO FEDERAL

APÓS O ENCERRAMENTO UNILATERAL DAS NEGOCIAÇÕES OS PROFESSORES PERMANECERAM MOBILIZADOS, lutando pela reabertura e pela negociação efetiva de nossas pautas. Entretanto, mesmo diante da flexibilização da nossa proposta inicial, quando apresentamos uma contraproposta com redução do impacto orçamentário, o governo se mostrou irredutível, enviando ao Congresso Nacional, no dia 31/08, o Projeto de Lei nº 4.368/2012, resultante da farsa que o PROIFES assinou em nome dos professores. Entendendo que o novo campo de batalha seria o Congresso Nacional, e avaliando que a possibilidade de alteração radical do projeto pelos parlamentares é bastante difícil, a maioria das instituições federais em greve decidiram suspender o movimento, saindo da greve sem assinar o acordo.

ESSA DECISÃO SIGNIFICA QUE NÃO ACEITAMOS O PLANO DE CARREIRA APRESENTADO PELO GOVERNO, e que continuaremos lutando para que tenhamos uma carreira lógica, funcional e academicamente estruturada, uma remuneração justa e condições de trabalho adequadas à oferta de uma educação de qualidade à população.

EMBORA NÃO TENHAMOS ASSINADO O ACORDO, DEIXEMOS CLARO: as conquistas salariais, ainda que sejam mínimas, são resultado da greve, e não da “benevolência” do governo, que antes da paralisação só pensava em cortes de gastos e pretendia manter congelados os salários do funcionalismo público federal por 10 anos (PL nº 549/2009). Da mesma forma, foi a pressão da greve que assegurou a criação de 24.000 novos cargos de professores para os institutos federais, conseguiu a implantação da progressão funcional (titulação e interstício de 18 meses) para os docentes da Educação Básica, Técnica e Tecnológica, a equiparação do Magistério EBTT com o Magistério Superior, o aumento de 50% nas verbas do PNAES (Plano Nacional de Assistência Estudantil) e promoveu a denúncia e a reflexão sobre o modelo e o projeto de educação que temos presenciado nos últimos anos, com a priorização da quantidade ao invés do investimento na qualidade.

CONQUISTAS DA GREVE NO ÂMBITO DO IFPI

ENTRE OS DIAS 17 E 24/09, A COMISSÃO GERAL E NEGOCIAÇÃO DO IFPI reuniu-se com representantes dos 11 campi, para apresentar as pautas locais de reivindicações e firmar compromissos em torno da resolução dessas pautas, elaboradas por professores, técnicos e estudantes dos campi do IFPI, mesmo os que não aderiram à greve.

NO DIA 25/09, A COMISSÃO REUNIU-SE COM O COLÉGIO DE DIRIGENTES DO IFPI, para que os compromissos firmados por cada campus fossem reforçados pela administração, e para que esta firmasse compromissos próprios em todas as dimensões elencadas na pauta: político-pedagógica, infraestrutura, gestão, relações de trabalho, democratização e transparência.

O RESULTADO DESSAS NEGOCIAÇÕES, além dos compromissos de curto, médio e longo prazo na resolução dos problemas apresentados, foi um processo político de dimensões ainda não vistas no IFPI, no qual professores, técnicos e estudantes organizaram-se para cobrar da gestão respostas para as necessidades da instituição, trazendo para o debate gestores que, muitas vezes, não têm o contato necessário com a comunidade para atender às suas demandas.

CABE A CADA UM DE NÓS O ACOMPANHAMENTO E A COBRANÇA PELOS RESULTADOS DOS COMPROMISSOS FIRMADOS. Devemos abandonar a passividade e atuar no sentido da realização de tudo aquilo que identificamos como necessário ao desenvolvimento com qualidade de nossa instituição.

LUTAR É UM DIREITO E UM DEVER DE TODOS OS QUE TÊM RESPONSABILIDADE E COMPROMISSO COM A EDUCAÇÃO!

OS PREJUÍZOS CAUSADOS POR UMA GREVE SÃO DO CONHECIMENTO DE TODOS e objetos de ponderação de qualquer categoria profissional antes de decidir paralisar suas atividades. Na greve da educação federal, esclarecemos que os prejuízos existem anteriormente à greve, pois são prejuízos diários e permanentes em função da política educacional de expansão sem qualidade dos institutos e universidades federais.

O PREJUÍZO DE UMA GREVE SERIA PERFEITAMENTE POSSÍVEL DE SER EVITADO, caso tivéssemos uma priorização da educação e de todos os aspectos que a envolvem, como a valorização e estruturação da carreira docente, o aumento de verbas para as instituições, o fornecimento das condições de trabalho para os professores e técnicos, de condições de estudo e permanência para os discentes, a democratização das instituições de ensino e de seus processos.

PARTICIPAR E APOIAR UMA GREVE, como muitos dos nossos estudantes fizeram e aos quais somos gratos pela consciência e coragem, significa comprometer-se em longo prazo com a instituição de ensino em que eles se encontram e com a educação que ela oferece.

PARA ALÉM DE UM ESTABELECIMENTO DE ENSINO ONDE SE CONSEGUE UM DIPLOMA, deve-se entender a escola, seja de nível básico, técnico, tecnológico ou superior, como um local em que os profissionais que nela atuam estão garantindo o direito de todos à educação. E a educação como direito não se restringe à ministração de aulas e à emissão de diplomas: ela objetiva a formação de sujeitos capazes de entender sua realidade e atuar nela de modo crítico e responsável, assumindo o papel de transformá-la, e não apenas de reproduzir suas contradições e injustiças.

A LUTA CONTINUA, PELA CARREIRA DOCENTE, CONDIÇÕES DE TRABALHO E ESTUDO!
Acompanhe e participe de nossas lutas: www.sindifpi.blogspot.com.br; facebook.com/sindifpi – Telefones: (86) 9996-8771/ 9965-6272/ 9989-0039

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